sábado, julho 31, 2004

aroma de madressilva - I


Quando me acordei essa manhã, ela já estava em meu quarto. Marília! É a Marília, minha filha adorada. Por onde esteve? Quanto tempo!
Ela me pareceu triste esta manhã. Não sorriu, não me afagou o rosto, não me convidou a sentar-me à janela. Há uma pitada de amargura no ar. Já vivi muito e sou capaz de distingüir muitos sentimentos apenas com um olhar. Como uma personagem de Veríssimo, ela observa tudo ao seu redor e ao mesmo tempo amarga uma perda.

sexta-feira, julho 30, 2004

aroma de madressilva - II


Me esforço em chamá-la, mas não consigo. Tento atraí-la com meus olhos, mas a cortina de lágrimas lhe cega.
Ma... consigo balbuciar e ela se vira para mim e sorri. Tudo muda, ela reacende seu brilho natural e vem em minha direção. Me beija a testa, me aperta a mão e começa a cantar.
Viajo no tempo com aquela canção que há tantos anos lhe ensinei para fazê-la dormir. Sua voz é doce, melodiosa, suave, e me faz fechar os olhos. Não sei se verei esse dia se pondo, mas estou aqui aproveitando Marília, trocando os últimos gestos, compartilhando lágrimas e sorrisos.

quinta-feira, julho 29, 2004

aroma de madressilva - III


Já li tudo o que me interessava. Já corri o mundo, perdi, ganhei, amei muito. O aroma de Madressilva invade o quarto e não há como não lembrar-me de Elvira. Nunca vou perdoar-te, Elvira. Por que me deixaste tão cedo? Tantas coisas que queria ter vivido contigo, compartilhado teu sorriso em cada novo lugar, teu corpo quente, tua alma imensa e confortável que me acolhia de meus devaneios. A cada livro que li, te procurei, Elvira, e te encontrei. Foste a fusão da mulher, a visão perfeita do ser que amei, muito além do indescritível.

quarta-feira, julho 28, 2004

aroma de madressilva - IV


Qualquer dia desses, Marília amada, vou buscar Elvira. Irei com o sol e não me peças para ficar. Irei transpor o rio, como se cruzasse uma ponte que sempre esteve no meu caminho e eu não quis enxergar. Mas não hoje... Não acabei de ler meu livro preferido, o atual. Além do mais, não vou morrer no inverno. Reconheço esse frio de agosto... ele não vai me levar para a terra fria. Prefiro a primavera, com suas luzes e seus aromas, com suas cores de aquarela e pela sensação de paixão que ela sempre me trouxe. Hoje, filhinha, quero apenas o aconchego de tua mão sobre a minha e o ninar de tua voz.