quarta-feira, março 29, 2006

luz na janela

A figura de papai sempre foi meu esteio, onde levava minhas dúvidas, onde descobria minhas respostas. Ele nunca me dizia como agir, mas me permitia ver as verdades e decidir o caminho a tomar. As coisas começaram a mudar desde o outono de 2001...
Quando meu pai chegou do hospital, logo após seu primeiro derrame cerebral, tive que fazer algumas adaptações. O quarto de meu filho, que já não o ocupava mais, sofreu alguns pequenos rearranjos. Troquei os posters de adolescente que ele havia deixado quando se fora, por porta-retratos antigos, retratos de família que fomos acumulando por anos e transformei tudo num pequeno museu, na esperança de fazê-lo lembrar de como fomos felizes. Trouxe também alguns objetos de valor pessoal que meu pai ainda guardava em seu apartamento, próximo ao meu. Um abajur, um vaso, todos os livros, até a cortina na janela que dava para o pôr-do-sol era a mesma que ele tinha.
Não sabia por quanto tempo estaria comigo, mas sabia que dentro daquele quarto havia uma vida inteira, um eco de luz sobre a vida. Não foi fácil confrontar-me com o futuro que se extinguia perante mim...


2 no bloco de notas:

Anonymous Anônimo registrou a lembrança...

Lembranças de algo guardado com muito zelo e amor.
Essas a gente leva com a gente pra sempre.
Navegando te encontrei.
Um abraço

17:42  
Blogger Saramar registrou a lembrança...

Silvio, boa noite.
Li todo esse final, antes de me animar a comentar, porque achei tão triste, tão imensamente triste!

Beijos

19:58  

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