sexta-feira, março 31, 2006

dois pássaros


Muito pouco diferia um dia do outro, porém papai tudo observava. Confesso que ficava em dúvida se ele reconhecia o lugar,ou se identificava suas coisas, ou até mesmo se tinha noção do que se passava.. seria ele um relógio travado que dá sempre a mesma hora? Mais parecia um passarinho numa gaiola, que por mais paisagens que lhe mostrasse, continuava confinado.
Logo após sua chegada lá em casa, por uma fresta entrou um pássaro, que parecia estar procurando-o. Minha neta assustou-se com bichinho, que também surpreendeu-se com ela. Quando fomos ver o que havia acontecido, meu pai, ainda suficientemente forte para andar lentamente, havia se erguido da cama para socorrer o pássaro que havia tentado sair pelo vidro. Foi comovente vê-lo com o animalzinho em sua mão. Meu filho, que costumava freqüentar nossa casa quase que diariamente, minha neta e eu sentamos a seu lado e compartilhamos um momento de meia lucidez. Eram dois pássaros feridos, e todos nós atordoados pelo instante inusitado, feito refém das horas.

1 no bloco de notas:

Blogger lena registrou a lembrança...

acabei por me comover também

beijinhos para ti

lena

11:35  

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