quarta-feira, abril 05, 2006

a sombra das letras

Eu sentava em frente a papai, alimentado-o com sopas e caldos e viajava no tempo e nas recordações de tudo que dele herdei por seus exemplos, dos costumes que adquiri, dos conceitos que se estabeleceram na minha vida através de seus gestos.
A proximidade aos livros, obtive de papai. Foram anos como professor de literatura e curador da biblioteca pública do estado, status que nunca lhe rendeu muito financeiramente. Além de uma vida modesta convivemos sempre num ar de cultura em minha casa. Ele falava de seu trabalho com tanto prazer, dos novos achados literários, dos velhos relidos e reinterpretados, de como os seus alunos lhe faziam descobrir novas nuances. Tudo isso acabou por me fazer optar por também trabalhar nessa área, como tradutora. Era capaz de contar sobre lugares que nunca havia estado fisicamente, mas que mergulhara em suas leituras.
Nas paredes de casa, não havia lugar para o vazio, eram estantes que as decoravam. Será que ele lembrava disso? Será que os livros fizeram parte de sua memória? Nunca saberei. Terei que envelhecer para saber e poder contar, feito náufrago nesse oceano de lembranças onde flutuo nos restos de minhas recordações.

3 no bloco de notas:

Blogger Oscar Pita Grandi registrou a lembrança...

Perdido en el bosque de la memoria. A veces me sucede lo mismo. Cuando logro salir, las veces que eso sucede, me quedo con una pena que me dura por dias.

18:58  
Blogger Saramar registrou a lembrança...

Essas dúvidas só vivendo-as para responder.
Repito, Silvio, você é soberbo!

Beijos

20:16  
Blogger Wilton Chaves registrou a lembrança...

Olá!
Passei para mergulhar em seus textos e nadar nas lembranças.Um momento de grande prazer ao chegar em seu espaço,meu caro Silvio, pois aqui, resgata com certeza, a minha condição de leitor. Um grande abraço.

08:11  

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