do outro lado do abismo
Para resgatar papai, usei de artifícios de memória que volta e meia funcionaram. Parar ao lado dele com uma roupa antiga, mostrar álbuns de fotografia, e conversar, conversar, conversar como se ele entendesse tudo o que eu dizia. Tinha vezes que eu sabia que me reconhecia, embora duvidasse que me entendesse. Em outras, ele me olhava desconfiado, como se eu fosse uma estranha invasora de suas lembranças. Houve momentos que ele dava uma risada, como aquelas de antigamente, quando nos contava uma piada nova ou relatava algo pitoresco que se sucedera na universidade. Por onde vagaria sua memória?
Tentava provocar uma curva no tempo ao falar-lhe sobre minhas recordações, mas ele se distraía olhando pela janela e via então que essas lembranças eram minhas, não as dele. Estendia-lhe a mão e ele a apertava. Levava-o até o banheiro e ele me sorria. Me via menina recebendo um elogio, uma aprovação, um carinho.
Apesar de sempre sorrir-lhe, queria poder ter dito como estava triste por estar tão próxima dele e, ao mesmo tempo, distante como se estivéssemos cada um em lados opostos ao abismo...
Tentava provocar uma curva no tempo ao falar-lhe sobre minhas recordações, mas ele se distraía olhando pela janela e via então que essas lembranças eram minhas, não as dele. Estendia-lhe a mão e ele a apertava. Levava-o até o banheiro e ele me sorria. Me via menina recebendo um elogio, uma aprovação, um carinho.
Apesar de sempre sorrir-lhe, queria poder ter dito como estava triste por estar tão próxima dele e, ao mesmo tempo, distante como se estivéssemos cada um em lados opostos ao abismo...
3 no bloco de notas:
Deixo votos de de uma Feliz Páscoa.
Uma bela Páscoa querido Sílvio!!!
Bjs
A solidão é tão intensa entre os seres! Você mostrou isso tão perfeitamente aqui com esses abismos de agora e aqueles que ela está recordando.
Beijos
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