quinta-feira, abril 20, 2006

rio, sol e nostalgia

Em muitas manhãs, sentei meu pai junto ao jardim do condomínio, de onde ele poderia ver o rio ao longe. Sabia que ele gostava daquele lugar e ali ficávamos sob os raios de sol. Era fácil contentá-lo com livros que lhe deixava à mão. Ele olhava para os livros como se lembrasse mais deles que de mim. Não sei se conseguia ler alguma coisa ou se ficava apenas folhando com as dificuldades de seus gestos, mas eu me sentia bem ao vê-lo à vontade.
Perto dali, havia um caramanchão de Madressilvas que permeava de seu doce perfume todo lugar, principalmente com a brisa de fim de tarde. Nostalgia indecifrável, jardim suspenso no tempo... Talvez ele pudesse me lembrar do quê, mas não poderia me contar. Eram retratos que enchiam minha alma de recordações que não eram minhas.
De quê é feita a memória? O que restará a mim lembrar? A forma como ele suspirava perante os livros, perante a tarde, feita de sol e rio, me dava a nítida impressão de que ele vivenciara momentos que trouxera com ele, não importando mais quando fora. Fico feliz em ter presenciado esses reencontros, mesmo que não pudesse testemunhá-los.

1 no bloco de notas:

Blogger Rosalina Simão Nunes registrou a lembrança...

como gostei destas palavras...uma bela maneira de começar o domingo.
obrigada

06:57  

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