segunda-feira, abril 10, 2006

um mar na garganta

Ainda no primeiro ano, as coisas pareciam tornarem-se repetitivas e não conseguia criar novas situações que lhe possibilitassem retomar sua memória. Optei então, por tirar-lhe de casa, sair em busca de outras recordações que não fossem álbuns e conversas.
No dia de seu aniversário, não adiantaria comprar-lhe um presente. Coloquei-o no carro com bastante dificuldade, andamos duas horas em silêncio de automóvel para levá-lo até o mar. O oceano sempre foi essencial para nós. Juntos com mamãe, conhecemos praias distantes, por estradas antigas que nos tomavam horas e horas de viagem. No caminho, a expectativa de ver o mar, de sentir o cheiro da maresia, de molhar meus pés e tontear perante o repuxo. Com meu pai me guiando e minha mãe na outra mão, sentia o equilíbrio naqueles dias de infância, quando nada era mais seguro que o calor de sua mão. Naquele dia, ao ampará-lo pela areia, levei-o até onde ele me ensinou a olhar à frente para não cair. Seu sorriso voltou e eu chorei. Não sei se ele lembrou de alguma coisa de nossa vida, mas com certeza foi o melhor presente que já lhe dei. A chuva que começou a cair confundiram minhas lágrimas de felicidade, enquanto ele olhava para cima e se deixava molhar em seu sorriso infantil perante aquele mar de saudades.

2 no bloco de notas:

Blogger lena registrou a lembrança...

li-te e senti esse mar de saudade, esse cheiro a maresia que me alimenta a alma, senti esse sorriso, e misturei-me nas tuas lágrimas

belo!


beijinhos muitos


lena

19:08  
Anonymous Anônimo registrou a lembrança...

Sílvio, creio que este foi um dos mais lindos e mais emocionantes momentos dessa história, porque, apesar de tão triste, para ambos, foi perfeito.
De novo, chorei!

Beijos

20:02  

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