segunda-feira, abril 24, 2006

baú de espelhos

Há três anos atrás, logo que meu pai adoeceu, tive que vender nossa casa de praia, onde ele ficava bastante tempo sozinho com suas lembranças. Era um lugar especial, onde as memórias do trabalho ficavam longe e ele me contava de sua infância, de seus irmãos, de como conhecera minha mãe, de meu nascimento, minha vida toda. Ele já estava doente, havia tido seu primeiro infarto, mas ainda pude ainda falar-lhe da venda do imóvel e da necessidade que tínhamos de manter o tratamento para que ele se restabelecesse e de quanto já não seria mais útil a casa. Assim que a vendemos, no entanto, ele sofreu o derrame e não soube do meu achado. Meu pai, que me surpreendia em palavras, agora me mostrava um lado que não conhecia, o avesso de seu espelho: meu pai visto de dentro. Por anos, na casa de praia, sozinho, ele escrevera muito. Crônicas, recordações, poesias, discursos, os mais variados escritos, guardados num baú no sótão, que me rendeu quase um mês de lágrimas e sorrisos ao lê-los.

3 no bloco de notas:

Blogger Rosalina Simão Nunes registrou a lembrança...

e que bom que é ter memórias assim.

08:19  
Blogger Wilton Chaves registrou a lembrança...

Meu Caro Silvio, muito bom o seu texto. Um olhar diante do espelho, no brilho das luzes do passado. Um resgate do tempo, um encontro da memória com as imagens restauradas da infância.Um grande abraço.

17:55  
Blogger Clau registrou a lembrança...

Silvio, conheci seu blog através do link de Bruna, do Venenos Anti-Monotonia. Identifiquei-me com seus escritos pois perdi meu pai há pouco mais de um ano.
Sensível, simples, belo.
Forte abraço, Claudia

22:13  

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