terça-feira, abril 18, 2006

migalhas e espinhos

Por vezes, quando eu ia vê-lo o encontrava mais distante, como se estivesse na companhia de alguma outra pessoa, como se houvessem resquícios em sua alma de pessoas que nem eu mesma conheci. Meus tios que já se foram, minha mãe que lhe era tudo e tantas outras pessoas que compartilharam sua passagem...
Sentia que o incomodava por ter que constantemente tratá-lo, seja alimentado-o, medicando-o ou até mesmo ajudando-o na higiene pessoal. Seus gestos me faziam lembrar de minha adolescência, quando eu queria ficar só e ele insistia que eu fosse olhar um gafanhoto verde ou me apresentava um livro infantil que já não me interessava...
Não tivemos grandes diferenças nessa fase... Passados os primeiros tempos de meu adolescer e com a ajuda de minha mãe ele foi adaptando-se a jovem mulher que por tantos anos lhe acompanharia. Meu pai aproveitou melhor de mim que eu mesma e eu lhe retribuí tirando-o de seus devaneios para pô-lo na cama, sem que ele se recordasse de mim, como se eu estivesse interferindo em seus sonhos, em suas viagens pelo tempo, onde provavelmente encontrava com pessoas que nem eu supunha.

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