segunda-feira, abril 03, 2006

outonos cinzentos


Meu pai viveu a plenitude dos ideais de cada tempo. Era ainda professor quando lutou contra duas ditaduras, apoiou revolucionários que se esconderam em nossa casa durante os anos sessenta e por pouco não acabou torturado nos bastidores daquela insanidade. Minha mãe, sempre com presença de espírito soube sempre o momento certo para proteger a família da leviandade dos tempos. A contra-gosto, mas com respeito, ele a ouvia e assim sobrevivemos com nossos sonhos contidos de liberdade. Já não tão jovem, no final dos anos setenta, quase aposentado como professor universitário organizou movimentos sociais como se fosse um menino. Mamãe já havia partido e não teve quem o segurasse. Depois que veio para minha casa, custou-me aceitar seu silêncio, pois de seus olhos ecoavam gritos mudos, diferentes daqueles que eu ouvia de meu quarto em noites cinzentas de outonos perdidos de liberdades.

2 no bloco de notas:

Anonymous Anônimo registrou a lembrança...

Oi, meu querido Sílvio!
Gosto desse teu jeito de contar as coisas. Mas percebo uma saudade, talvez nostalgia, dolorida. Sua alma é delicada. Noto isso não só em seus relatos como nas fotos que posta. Não são todos que apreciam um Monet...
Tenho algumas fotos de trabalhos de Seurat, Renoir, Manet. Mas nem os posto em meu blog. A maioria nem os olharia. Aí percorro a internet à procura de "bobagens". E noto que são muito apreciadas. Como dizia meu pai: "A virtude é escassa na natureza".
Um beijo grande, dessa sua amiga

01:57  
Anonymous Anônimo registrou a lembrança...

Acabei de ler "Morangos Mofados".
Poderia dizer um monte de coisas a respeito disso. Até mesmo que nem todos os morangos estão assim. Há muitos que nascem a cada dia, novinhos, vermelhos, com gosto de infância. Basta pegar um deles e comer. Nem que seja comprado no mercado. :-) Beijos, amigo

02:08  

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