sábado, maio 29, 2004

gritos mudos - III


O sol já deve estar alto. Escuto seus passos junto à porta. Marília! Venhas me acalentar, deixes tudo para depois e venhas me lembrar das coisas que esqueci. Teus gestos são como álbuns abertos sem escolher a página. Como um turbilhão, tua simples presença acelera minha cabeça e te vejo, menina, moça, mulher. Linda como tua mãe, suave como a minha, que já nem recordo mais o rosto.
Eu ainda tinha muito o que te contar quando tudo aconteceu, mas não sei nem quando foi. De repente, sem prévio aviso, sem sinal no calendário, envelheci. Tudo o que faltava dizer, calou-se. Todos os lugares que gostaria de te mostrar, desapareceram. Todos os carinhos, esses sim, te dei. E agora, no silêncio em que pronuncio amor, me retribuis com afagos delicados e afetos desmedidos.

3 no bloco de notas:

Blogger Cláudio B. Carlos registrou a lembrança...

Oi!

Abraços do CC.

00:47  
Blogger Caiê registrou a lembrança...

"de repente, sem aviso , envelheci"... essa frase é todo um poema. Adorei o teu texto. Grande abraço!

13:57  
Anonymous Anônimo registrou a lembrança...

Silvio, querido, isso é um poema escondidinho aqui dentro do romance.
Hoje, fiquei quase o dia todo lendo aqui. Lendo e relendo, depois daquelas explicações que me deu, tão gentilmente.
E vou ficando cada vez mais encantada e angustiada, sofrendo com ele.

Beijos

20:44  

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